segunda-feira, 1 de agosto de 2011

10 Lições para entender o Barça

Por: Sérgio Xavier Filho
Retirado da Revista Placar de Julho de 2011


1- QUANDO COMEÇOU ESSE TIME?.

Em 1988, momento em que a equipe era saco de pancadas.

Johan Cruijff, ex-ídolo do clube, assumiu o time com carta branca. E resolveu ressuscitar a Holanda total de 1974 dentro de um clube. O conceito básico era posse de bola. Todos marcam, todos atacam e grandes jogadores não podem atrapalhar o conjunto da equipe. A escola barcelonesa nasceu assim. A primeira geração teve Laudrup e Stoichkov. Depois vieram Romário e o próprio Guardiola. O título da Copa dos Campeões de 1992 foi a confirmação de que o caminho era esse. E para sempre. De lá pra cá, treinadores tentam manter esse espírito. Nem todos conseguiram.
 
2- GUARDIOLA É ESSE GÊNIO TODO?
 
 
Quando foi convocado para assumir o Barça já estava em queda.

O convite, feito pelo dirigente Juan Laporta, era um risco total. Guardiola nunca tinha dirigido um time profissional, mas tinha a biografia a seu favor. Catalão, nasceu no Camp Nou, conhecia os tufos do gramado. E era topetudo. Antes de aceitar, provocou: "No tenrdás cojones de ponerme". O Barcelona teve...

3- O BARCELONA TINHA LARANJAS PODRES?

Sim, pelo menos umas quatro de bom tamanho.
 
Ibrahimovic, Eto'o, Ronaldinho Gaúcho e Deco travavam o time. Guardiola nunca questionou o futebol do sueco Ibrahimovic. No primeiro jejum de gols, soltava nas internas um "ninguém passa pra mim". Isso pegava mal. Um desse que não soltavam a bola era Messi... O problema do camaronês era de mesma natureza: Samuel "Ego'o". O atacante fazia os gols, mas queria brilhar sozinho. Não deixava Messi crescer. Entre um e outro, Guardiola optou pelo argentino.
 
4- O TIME ERA BALADEIRO?

Não exatamente.
 
Barcelona é uma cidade noturna e muitos jogadores aproveitavam essas oportunidades todas. Dois passaram do ponto. Ronaldinho Gaúcho e Deco começaram a influenciar o mais jovens também, incluindo aí o argentino Messi. Guardiola percebeu que era preciso tomar uma providência. Em um treino, Ronaldinho e Deco chegaram após uma balada vigorosa. Se queixaram de dores musculares, foram fazer massagem. Ficou famosa no grupo de jogadores a história de Ronaldinho dormindo na maca. O Barcelona cortou o mal pela raíz e ejetou a dupla brasileira.
 
5- QUEM É A CARA DO BARÇA?

Guardiola, Xavi, Puyol e Iniesta.

O treinador Guardiola tem 40 anos, é jovem como seus comandados. Puyol é p líder emocional. Xavi é o técnico dentro de campo (e fora também). Inesta fala pouco e fala bem. Eles são torcedores do clube. Fanáticos. Isso faz toda a diferença. O quarteto não tem apenas os interesses pessoais e profissionais, se preocupa com o futuro do clube nos próximos quatro ou cinco anos. Além disso, são ídolos que não se distanciam da sua Barcelona. Todos seguem frequentando seus lugares, vários deles muito simples. Esses catalães conquistaram o mundo duas vezes em menos de um ano. Primeiro com o uniforme oficial da Espanha, e agora com a camisa azul-grená da verdadeira seleção nacional da Catalunha.
 
6- AINDA HÁ PEIXES FORA D'ÁGUA NO GRUPO?

Sim, o artilheiro David Villa, que chegou em 2010, segue tentando entender o Barcelona.
 

Segundo Xavi, ele agora está "aprendendo a jogar futebol". Não entendeu a diferença entre atuar no Valência e no Barcelona. No primeiro, eram dez jogadores brigando pela bola e tocando-a para Villa correr atrás. Difícil de jogar, fácil de entender. No Barça, o contrário. É duro de entender a mecânica do time, mas fácil de jogar, porque a bola chega limpa. A dificuldade é a ocupação de espaços e os deslocamentos. O atacante não pode ficar à frente da linha da bola quando a posse é do adversário. Isso sobrecarrega o meio-campo. No Barça, a ideia não é correr 40 metros de vez em quando, mas correr 10 metros sempre, fechando espaços. Trabalho de formiguinha.
 
7- MESSI É ÍDOLO DOS SEUS COMPANHEIROS?

Não era.

Os jogadores admiravam a habilidade do argentino formado nas canteras do Barcelona, mas questionavam sua eficiência para o time. Isso mudou. O fundamental é que Messi "entendeu" o jogo. Quando percebe que errou em suas primeiras três arrancadas, toca de lado até recuperar a confiança mais tarde. No segundo jogo da semifinal da Liga dos Campeões, o Real vinha botando o Barça na roda no primeiro tempo. Em duas oportunidades, Messi perdeu a bola e não deu combate. Na terceira, como se estivesse falando com um estagiário, Xavi deu um berro com o argentino: "Vamos começar a cercar?" A bronca surtiu efeito.
 
8- MESSI É UM FOMINHA?
 
De certa forma, sim.


O argentino fala pouco, quase nada. Na verdade, ele tem dois interlocutores: Milito e Mascherano. Não que os compatriotas coadjuvantes procurem a estrela. É o contrário. Messi é que vai atrás dos dois. O craque é viciado em futebol. Guardiola não consegue poupá-lo. Sacar Messi do time significa tirar o brinquedo da criança, ele desconcentra. Nessas partidas vadias do fim do Campeonato Espanhol, quando tudo o que interessava era a Liga dos Campeões, Messi entrava jogando com a combinação de sair no início do segundo tempo. Guardiola o chamava. Messi dizia: "Estou bem mister, só mais um pouquinho". O técnico deixava. Apenas em dois jogos do Espanhol é que os médicos exigiram sua saída. "Certeza que ele vai estourar". Logo após o fim da Copa do Mundo, o time estava todo de folga. E a equipe reserva tomou de 3x1 do Sevilla na primeira final da Supercopa da Espanha. Messi, Iniesta e Xavi imploraram para jogar a segunda partida. Barça 4x0 e campeão.

9- ATÉ QUE PONTO CONSCIÊNCIA TÁTICA GANHA TROFÉU?

O Barcelona não é diferente só pelo talento.

A semifinal da Champions começou com um Real inflado pela conquista da Copa do Rei. Guardiola não queria deixar o adversário crescer. A chave era segurar Daniel Alves. O combinado é que ele não passasse do meio-campo no início. "Dani, pelo amor de Deus, não vai", dizia Iniesta no jogo. Deu certo. Como Mourinho tinha encarregado Di María de grudar em Daniel, o argentino ficou à frente da linha da bola e deixou o meio despovoado. Ali o Barça mandou na partida.
 
10- NÃO BATEU UM MEDO DE REPETIR 2010 E PERDER DE NOVO UMA LIGA DOS CAMPEÕES COM O MELHOR TIME?
 
Se bateu, todos disfarçaram muito bem.
 
A preleção de Guardiola em Londres foi quase sonolenta. Não havia muito mais a dizer. "Não se esqueçam de como vocês chegaram até aqui. Não mudem nada. É o nosso jogo, toquem a bola". Todos prestaram atenção, menos um, que olhava para o lado. O massagista, Juanjo Brau, que conhece Messi desde o tempo das divisões de base, tranquilizou os jogadores do Barça que se preocuparam com o desligamento do argentino. "Relaxem, ele está ligadíssimo". Juanjo se preocupou quando Cristiano Ronaldo virou o artilheiro na reta final do campeonato com quatro gols em dois jogos. E perguntou a Messi se aquilo o incomodava. O argentino respondeu: "O que vale mais? Quatro gols desses ou um em Londres?" Para todos, um sinal de maturidade do argentino.

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